"O
maior erro de noventa e nove por cento das pessoas é ter vergonha de serem que
são, é mentir a esse respeito, fingindo ser alguém diferente. A honestidade era
a sua marca, a sua arma, a sua defesa. Quando somos honestos, as pessoas se
assustam, ficam chocadas." — Morte Súbita, J.K. Rowling.
Sumir para sempre, seria infinitamente melhor do
que aguentar aquele bando de esnobes e babacas da escola, eu os destetava.
A minha vontade era de mandar todos irem se fuderem, e fugir para um lugar bem
longe, onde não teria que os aguentar toda semana, na verdade eu destetava a
todos que circulavam em minha volta, principalmente o meu pai, eu só queria que
ele morresse ou que sumisse para sempre e nunca mais atormentasse a mim e nem a
minha mãe, nunca, em certos momentos na minha mente se alastrava um sentimento
tão obscuro que eu tinha vontade de se livrar dele com as minhas próprias mãos.
Esses pensamentos deveriam me apavorar, mas não, eu não sentia nada, eu apenas
queria me livrar dele a qualquer custo, nem que para isso tivesse que me sujar
um pouco. O meu único desejo de vida era que ele fosse normal, que fosse um pai
que eu pudesse me orgulhar, um pai que eu falaria para todos sobre ele, um pai
que me ajudasse, um pai me ensinaria o que era ser um verdadeiro homem. A
realidade era distante, por que ele nunca teria como ensinar uma coisa que
ele nunca foi e nunca iria ser. Já perdi a conta de quantas vezes o vi
chegar em casa bêbado e descontar todas as sua frustrações de sua medíocre
vida em cima mim e da minha mãe, não era justo que uma mulher tão incrível como
ela teria se juntado a um ser tão monstruoso como meu pai. Eu tinha vergonha de
chama-lo de pai, ele podia ser o meu pai biológico, mas nunca seria um
verdadeiro pai para mim, um verdadeiro pai nunca chegaria em casa espancando o
seu filho, nunca bateria em sua mulher, nunca os odiaria, a sua obrigação era
nos dar um lar e amor, mas ele falhou com isso também.
— Boa tarde Clifford. – disse Calum
Hood assim que abriu a porta de sua casa.
— Boa tarde. – o respondi sem a menor
animação.
— Entre, por favor. – diz se
afastando da porta e me dando passagem para entrar. Entrei e olhei ao redor,
era uma casa bonita, era aconchegante, poderia sentir dali o cheiro de uma bela
família feliz.
— Érr... Olivia e Charlotte ainda não
chegaram, mas fique a vontade. Aceita alguma coisa, uma água?
— Não Hood.
— Ok. Vou à cozinha e já volto. –
disse e sai andando para um corredor e o perco de visão. Queria não estar ali
naquele momento, queria não estar na classe da Senhora Cohan, queria não
estudar naquela escola, queria não morar naquela cidade, queria não existir. A
companhia toca e vejo Calum correndo até a porta, o quanto antes o resto do
grupo chegasse, mais rápido acabaríamos o maldito trabalho e assim estaria
livre para partir daquele lugar, era o meu anseio do dia. Segundos após, na
sala aparecem na sala Olivia Brecht e Calum, nem sinal de Wayne, meu dia só
tinha a melhorar.
— Olá Michael. – diz Brecht olhando
envergonhada para mim. – apenas a dou um aceno com a cabeça. – Florence disse
que iria se atrasar um pouco, por que tinha resolver alguns problemas antes,
mas que te tentaria chegar logo. – disse nos explicando. Eu sabia muito bem que
problemas eram aqueles, em até certo ponto eu a entendia.
— Vamos fazer o trabalho agora ou
vamos espera-la? – pergunta Calum.
— Vamos fazer isso agora. – o
respondo.
— Sim, é melhor. – Brecht o
responde também.
— Ok então. Vamos para a copa, me
acompanhem. – disse se virando e nos mostrando o caminho para a sua sala de
jantar, aquela casa era enorme. Sentando-nos em volta daquela
grande mesa, de oito cadeiras, ele deveria ter uma família grande. – Érr
como vamos dividir as questões?
— Podemos selecionar uma determinada
quantidade de questões para cada um, e depois trocamos e revisamos para saber
se estão todas corretas. – Olivia deu uma bela sugestão, uma pena que eu era um
péssimo aluno em matemática.
— Vamos lá então! – diz Calum, que
estava tão animado quanto eu.
Depois de duas incansáveis horas
desgastando a minha mente, em problemas que em minha opinião foram feitos pelo
próprio demônio, por que aquilo era impossível de se resolver, e pela cara do
meu colega de equipe, Calum Hood, ele compartilhava a mesma opinião que a
minha, diferente da minha outra colega de equipe, Olivia Brecht, que estava a
todo vapor resolvendo inúmeras questões, que para mim era uma coisa de outro
mundo e para ela era simples. E por fim Florence Wayne, que estava quase
dormindo em cima das folhas e do livro, que depois de quase meia hora que
havíamos começado o trabalho chegou, alegando que estava presa em seu trabalho.
— A cabeça de vocês está doendo? Por
que a minha sim. – disse Calum batendo a cabeça no livro.
— Estamos Hood. – responde a Wayne
com cotovelo sendo usado para apoiar a sua cabeça. – estou com fome. – reclama.
— Aah isso me lembra de que a Amelia
fez um bolo para nós. - diz Calum de levantando da mesa. – Venham, vamos para a
cozinha. – nos chama. Quando chegamos à cozinha ele abre o forno e tira de lá
uma travessa de torta de carne. Só neste momento que eu percebo que estava
morrendo de fome, minha boca salivava. – Meat Pie é a minha
torta favorita, espero que gostem. – diz e vai até o armário e tira de lá
quatro pratos e quatro copos, os deixa no balcão e vai até a geladeira e tira
uma jarra de suco. – Sirvam-se, fique a vontade. – disse já colocando um
generoso pedaço de torta em seu prato e se servindo do suco. E como eu
estava com fome, eu fui o próximo a me servir, com isso depois de mim veio a Florence
se servir da torta também, depois de algum tempo com todos já ocupados demais
com a boca para falar qualquer coisa, Olivia veio à cozinha e se serviu um
pouco, ela era tímida demais, a que há deixava um pouco adorável demais.
— Então pessoal, eu preciso ir para
casa agora, podemos terminar o trabalho outro dia? – Olivia diz olhando para
nós.
— Claro, claro. – Calum responde por
todos nós, e ainda com a boca cheia.
— Querem que eu de uma revisada nas
questões de vocês? – pergunta com a sua atual e desconhecida por
mim, doçura.
— Seria maravilhoso Olivia – Florence
responde.
— Então eu vou pegar as folhas e já
vou indo. Tchau a todos, amanha combinamos como será feito o resto do trabalho.
– diz saindo da cozinha e um coro de “Tchau Olivia” é vindo de nós.
— Isso está divino Hood. – diz Wayne
se deliciando com a torta.
— Eu sei, Amelia é demais. – Calum
diz se gabando e bebe um pouco de seu suco. – Vocês não são como eu achava que
seriam. – diz olhando para nós dois.
— Devemos levar isso como um elogio?
– o indago.
— Não foi isso o que eu quis dizer,
vocês são legais, é que há vários boatos que cercam a escola sobre vocês dois e
eles não nada amistosos, sabem o que eu quero dizer.
— Sabe Calum, você
deve aprender a não dar ouvidos aos boatos, e com isso aprenderá que não
são verídicos. – diz Wayne se levantando. – Acho que a minha hora aqui acabou,
tchau garotos. – finaliza.
— Me desculpe, eu não queria
ofende-los – diz Calum tentando se redimir pelas palavras ditas anteriormente,
mas era tarde demais, Florence já havia saído.
— Hood tem que fazer melhor se vai
querer nos ofender. Tô saindo. – digo me levando e depois pego a minha mochila
na copa onde estávamos e faço meu caminho até o meu pesadelo, vulgo até a
minha casa, o final do dia ainda poderia ser ainda pior do que isto.
*********
— A sua casa é bem legal Katherine. –
já tinha perdido as contas de quantas vezes no dia Luke Hemmings já havia
tentado puxar assunto comigo.
— Obrigada – disse por fim e tentando
me concentrar de volta as atividades.
— Há quanto tempo mora aqui Lou?
Posso de chamar assim né? – e novamente a minha concentração é atrapalhada por
Luke.
— Sim Luke, moro aqui a minha vida
toda. – o respondo.
— Antes de chegar não achava que
Canberra seria tão interessante, como está sendo agora. – Oh meu Deus, aquele
cara não ficava quieto, e que tipo de cantada barata era aquela, sério que
funcionava com certas garotas?
— Que legal. – por Deus, por que ele
não percebia que eu não queria papo agora, eu apenas queria me concentrar no
trabalho. Finalmente ele havia entendido o recado e ficado quieto e apenas
fazendo as suas atividades. O silêncio era maravilhoso de se ouvir.
— Já acabei a minha parte. – disse
Luke depois de uns quinze minutos.
— Já? – pergunta Haley a ele.
— Sim, isso é tão fácil. – e todos
nós o olhamos assustado, ele não aparentava ser o tipo de pessoa que era
excelente em matemática. – Não caiam no estereótipo, por favor, pensei que eram
mais do que isso. – falou por fim, e pegou o seu celular e ficou mexendo no
mesmo. Definitivamente não deveríamos cair nas generalizações, às pessoas
são muito mais do que aparentam ser, nunca devemos julgar alguém pela sua
aparência, esse era o ensinamento que desde pequena ouvia, tinha que agradecer
a Mia a isto, por me ensinar a ser uma pessoa melhor.
— Por que matemática há de ser tão
complicada? – suplica Ashton para si mesmo.
— Não é tão difícil assim Ashton, só
precisa ter paciência. – o respondo e ele olha assustado para mim,
provavelmente ele pensou que tinha falado apenas em sua mente. Ashton Irwin era
intrigante, e me despertava certa curiosidade, eu queria o ouvir falar, queria
o desvendar. Esse era completamente um pensamento estranho de se ter, eu mal o
conhecia, mas algo dentro de mim queria definitivamente conhece-lo. As únicas
coisas que sabia de Ashton eram o seu nome, sua idade e que ele andava somente
com uma única pessoa na escola. – Quer um pouco de ajuda? – o pergunto e ele
afirma com a cabeça, ele era um ser estranho, mas era um estranho bom, eu até
gostava de Ashton Irwin, e eu certamente gostava do som da pronuncia do seu
nome. Desde que havia chegado aqui em casa Ashton não havia dito uma só
palavra, queria saber mais sobre isso, mas estava com certa vergonha de perguntá-lo,
seria invasão demais. A cada momento que eu ia o explicando a matéria e ele ia
entendendo, surgia uma pequena convinha em seu rosto, ele era definitivamente
um cara muito fofo. Depois de alguns minutos o explicando eu voltei a minhas
próprias atividades, mas sou despertada quando ouço uma voz ao meu lado.
— Obrigado, você é uma excelente
professora Louise. – disse Ashton me olhando rapidamente e logo voltando a
sua própria folha. O som da sua voz pronunciando o meu nome era mil vezes
melhor do que eu pronunciando o seu nome. Eu com certeza o queria ouvir falando
mais, era uma coisa boa a se ouvir. Logo depois de mais ou menos uma hora após
ajudar Ashton eu finalmente havia acabado a minha parte de atividades do trabalho.
Neste momento eu queria apenas comer alguma coisa, e isto me lembra de que os
outros deveriam estar com fome também.
— Eu vou buscar algo para comermos,
já volto. – digo me levantando da mesa.
— Vou com você Lou – logo ouço a voz
de Luke bem atrás de mim. Vou até a geladeira e vejo o bolo de chocolate que
Mia havia deixado pronto especialmente para esta ocasião, e que estava com uma
aparência ótima. – Deixa que eu pego para você. – diz pegando a travessa do
bolo que antes estava em minhas mãos, mas sem antes tocar as suas mãos em mim
propositalmente. Ele era bonito, charmoso, com um ótimo sorriso e tudo mais,
mas não ia rolar, só esperava que ele percebesse que eu não estava afim.
— Pode ir levando o bolo lá para a
sala, só vou pegar os copos. – digo abrindo o armário a procura dos copos e só
ouço o som da sua bota se chocando contra o chão. Abri a geladeira e vi que
havia suco de cereja “Oh Deus como eu amava suco de cereja”. – Aqui está os
copos, o suco, os pratos e os talheres para se servirem. – digo apoiando tudo
em cima da mesa. – Comam. – digo sorrindo e servindo todos. – Aceita um pouco
de suco Daisy? – a perguntou e ela nega. – Por quê? Não gosta? Tenho outros na
geladeira. – Sim, eu era uma pessoa bastante curiosa.
— Nenhum destes motivos, eu sou
alérgica a cereja, e não precisa se preocupar com o suco, estou bem. – diz se
explicando.
— Tem certeza? – a pergunto
novamente.
— Sim. – me responde e come um
pedaço do bolo. Eu era uma pessoa muito invasiva em certos momentos, eu
gostava de saber o porquê das coisas, eu era uma sonhadora ambulante, sempre
querendo ouvir as mais variadas histórias, eu gostava de ouvir as pessoas tanto
quanto eu gostava de falar, e olhe que eu amava falar.
— Olha pessoal foi muito bom fazer
este trabalho, mas eu tenho que ir agora. - diz Luke se levantando do seu
lugar. – Aqui está às folhas com as minhas partes das respostas. – diz me
entregando as suas folhas. – E tchau pessoal. – e dizendo isso se dirige a
saída. O silêncio que se fez logo a saída de Luke estava me matando. Eu era uma
pessoa ruim por querer silencio antes, mas agora não? Talvez sim.
— Ooh finalmente eu acabei isto. –
diz Haley esticando os braços para cima.
— Isto foi enorme. – reclamo com ela.
– A senhora Cohan não tem pena de ninguém, e provavelmente este trabalho não
vai valer muito.
— Isso é horrível, ainda mais depois
de todo estre trabalho para responder a estas questões. – me responde.
— Sim... – a respondo e olho para o
meu lado direito, onde Ashton estava fazendo a suas atividades a um espaço de
duas cadeiras de mim, por que ele insistia em ficar afastado? Essas e outras
perguntas rondavam a minha mente. – Morava em Sydney certo Haley? – a pergunto
na intenção de puxar alguma conversa.
— Sim.
— É uma bela cidade.
— Com certeza, sinto saudades de lá.
— Sempre passo as minhas férias de
verão lá, meus avós maternos moram em Sydney. – digo a explicando.
— Isso é bom.
— Está gostando de Canberra Haley? Eu
sei que não é badalada como Sydney, mas é uma boa cidade.
— No começo antes de vir para cá,
devo confessar que não estava tão animada assim, mas agora estou começando a
gostar. – a partir deste momento engatamos em um a conversa sobre os melhores
pontos turísticos de Sydney, e depois descobrimos e nosso amor em comum
por The Vampire Diaries, e neste ponto a conversa já fluía
naturalmente, Haley Wilcox era uma ótima pessoa, e talvez futuramente uma boa
amiga.
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