“Estou
confuso. Muito confuso. Tem um abismo. Sim, daqueles bem fundo ainda. Estou na
beira. Até parece que aprendi a dançar balé clássico, pois estou na ponta dos
pés, uma mão tentando manter o equilíbrio e a outra segurando o mundo. E
também, tem aquela vontade insana de sumir, de me enfiar em um buraco, ou me
jogar desse abismo para ver o que me aguarda. Já disse que estou confuso?
Cansado também. Com fome, não. Não estou com fome, normalmente não sinto fome,
não sinto vontade de comer mais nada. Queria dormir, como eu queria! Queria
virar a bela adormecida também e tirar um cochilo dos deuses, porém, por favor,
sem príncipes e nem princesas. Não quero acordar emburrado. E dormir
ultimamente é umas das coisas que venho gostando e praticando bastante. Porém,
não o suficiente para me saciar. Parece que o ponto final da minha história já
foi traçado, agora só falta ter paciência para ir lendo devagar, pois está
porvir dias longos e horas incontáveis de sofrimento.”
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O Vento do Oeste.
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— Olá! – levo um susto assim que ouço a voz de
Calum atrás de mim. – Olá Emily. – diz dando um sorriso irônico a minha
possível nova amiga, que estava na minha frente.
— Olá Calum, tchau Calum. – Emily o responde
saindo perto de nós. – Depois nos falamos Haley. – diz antes de desaparecer no
amontoado de alunos que estavam presentes no extenso corredor.
— Eu acho que ela não gosta de mim. – Calum diz
parado ao meu lado observando o caminho percorrido por Emily.
— Agora que você descobre isso Cal? – o pergunto me
virando para ficarmos finalmente de cara a cara.
— Eu não tenho culpa por aquele lance não ter
dado certo entre nós. – se justifica.
— Eu acho que ela ainda gosta de você. – digo e
ele olha assustado para mim. – É sério Calum, uma garota não guarda tanta raiva
assim de alguém atoa. – o explico.
— Naaaão!
— Vou passar o seu número para ela. – digo
enquanto pego os livros que preciso em meu armário.
— Nem pense em fazer uma coisa dessas Wilcox.
— Por que não? Ela é legal.
— Legal? Legal só se for com você. – Calum diz em
sua atual cara de indignado e horrorizado, e o único som que era possível sair
da minha boca neste momento era o som das minhas gargalhadas. Nestas semanas
que se passaram depois do inicio das aulas, eu o Calum demos inicio a uma bela
amizade, ele era um garoto incrível e com um ótimo senso de humor, e eu peguei
uma estranha mania de adorar zuar com a cara dele, era demais vê-lo irritado
por ações tão bobas. – Vamos Daisy, quero chegar em casa logo. – diz Calum me
chamando em direção á saída da escola. – Não gosto de ficar na escola mais que
o necessário.
— Vamos. – digo sorrindo e o acompanhado em
direção ao portão de saída.
— Posso te falar algo? – Calum me pergunta depois
de algum tempo da caminhada que estávamos fazendo para chegar em casa.
— Claro – o respondo.
— Sabe... Antes das aulas começarem eu pensava
que você era o tipo de garota isolada, do tipo antissocial. – ouço as palavras
saindo com cuidado da sua boca. – Não fique bravo comigo!
— Não vou ficar brava com você. – o respondo
dando um meio sorriso em sua direção.
— Quando você chegou lá em casa, você estava com
um mau humor extremo, mal nos cumprimentou direito. – diz e explicando. –
Pensei que você fosse colocar fogo na casa com os seus olhares. – diz dando uma
risada no final, uma risada que eu o acompanho.
— Quando eu cheguei aqui eu também não gostei de
você, a sua cara de metido me enjoava. – digo isto e observo fazer uma cara de
indignado. – Vamos ser sinceros. – digo sorrindo em sua direção. – Mas quando
eu cheguei aqui, eu estava de mau humor porque eu não queria estar aqui, eu
realmente odiava estar, eu estava com inúmeros problemas na minha mãe.
Desculpe-me por ter descontado isto em você e no seu pai, vocês foram muito
receptivos comigo, obrigada.
— Eu confesso você nos tratou horrível, mas agora
percebi que você não é tão chata assim. – diz sorrindo para mim.
— Obrigada Calum. – digo retribuindo o sorriso.
*
— Eu acho que nós deveríamos sair para comer uma
pizza. Vamos família? – não pai, péssima ideia.
— Uma ótima ideia. – diz minha mãe Liz
concordando com o meu pai Andrew.
— O pessoal na delegacia falou de um lugar
maravilhoso, falaram que é a melhor pizza da cidade. O que você acha Luke? –
diz meu pai perguntando a mim.
— Hm, hoje à noite? – pergunto em uma tentativa
feita para atrasa-lo e arrumar uma desculpa descente para faltar o “grande”
jantar em família.
— Sim, hoje à noite. – me responde, e neste
momento o meu celular vibra com uma notificação de mensagem. Salvo pelo gongo.
— Hoje à noite poderei ir. – o digo.
— Por que meu filho? – pergunta a minha mãe, será
que davam para parar de fingir ser uma família normal.
— Hoje o pessoal no colégio dará uma festa, e eu
irei.
— Vai perder uma noite em família para ir a uma
festa? – meu pai me pergunta.
— Mas foi você que disse pai, que eu deveria me
enturmar mais, e que jeito melhor de se enturmar do que indo a uma festa? – o
respondo.
— Tudo bem então, podemos marcar de ir outro dia.
— Sim, agora vou subir para o meu quarto. – digo
me levantando do sofá e subindo a escada apressadamente antes que eles falassem
algo a mais. Passo no corredor que me leva ao meu quarto e vejo inúmeras portas
retratos, de uma família que eu nem conhecia mais. Não podia negar que as fotos
eram bonitas, por que era nelas que estava retratada uma família quase que
perfeita, mas o tempo passou e de quase perfeita a família foi para destruída. Eu
não os odiava, longe disso, eu apenas não gostava do jeito quase que teatral em
que eles resolviam todos os seus problemas. Assim que chego ao meu quarto me
jogo na minha cama e pego o meu celular para reler a mensagem de Jake.
“Festa hoje na casa do Oliver, topa Hemmings?”
“Conte comigo nessa Border” o respondo e bloqueio
meu celular e o jogo no meu criado mudo ao lado da minha cama. Dormir era o que
eu mais ansiava neste instante, os deveres escolares que ficassem para mais
tarde.
*
Sou despertado do meu sono, com o barulho de
vidros se quebrando, e aquilo só podia significar uma coisa. Era mais uma
detestável briga entre os meus pais. Saio silêncio do meu quarto de desço as
escadas em direção à cozinha de onde vinha todo o barulho.
— EU EXIJO QUE VOCÊ ME RESPEITE KAREN, SE NÃO
FOSSE POR MIM, NESTE EXATO MOMENTO VOCÊ E MICHAEL ESTARIAM SEM UM TETO PARA
MORAR. – antes de chegar à cozinha já ouço a voz estridente de Daryl. Eu chego à
porta da cozinha e vejo Daryl de costas para mim e a minha mãe agachada no chão
a sua frente rodeada por cacos de vidro. Daryl era um desgraçado. Assim que o
meu olhar se encontra com o da minha mãe, ela olha para mim, um olhar que dizia
que era para eu sair dali e me trancar no quarto, infelizmente eu já estava
acostumado com aquele olhar, ele partia o meu coração. — O QUE ESTÁ OLHANDO
TANTO? – Daryl grita mais uma vez e se vira para mim, e sinto o cheiro de
bebida empregando em sua roupa. — AAH CHEGOU O FILHO DE OURO, VEIO PROTEGER A
MAMÃE FOI? – diz com a sua voz carregada de ironia e malícia. Eu sabia que se
eu o respondesse agora só pioraria a situação minha e da minha mãe. Doía-me
saber que qualquer movimento que eu fizesse agora ele descontaria tudo em minha
mãe, eu me odiava por me sentir tão inútil, a única coisa que eu podia fazer
era ir ao seu lado e ajuda-la, e isso foi o que eu fiz. – VAI AJUDAR A VADIA
MESMO, EU ESTOU SAINDO E QUANDO EU VOLTAR QUERO TUDO LIMPO. – diz o monstro,
vulgo Daryl pegando as chaves do seu carro e saindo dali, fugir era o melhor
que ele sabia fazer. Assim que eu ouço o barulho do motor do carro de
distanciando casa, eu me viro para a minha mãe e pergunto.
— O que ele fez desta vez? – a pergunto realmente
irritado.
— Nada querido. – me responde tentando cessar as
suas lágrimas.
— Mãe, olhe para mim. – digo pegando em seu rosto
e a fazendo ficar virada para mim. –
Isto. – e neste momento aponto para vermelhidão e estava em torno de seus
olhos. – não pode ser nada.
— Michael, você sabe com ele é, ele chega em casa
bêbado e acha defeito em tudo.
— Não posso deixar mais isso acontecer, isto está
a matando. Temos que ir embora daqui já. – digo a colocando sentando na
cadeira.
— Sabe que nós já tentamos isso, e não deu certo.
— Desta vez é diferente, eu estou mais velho e
posso arrumar um jeito de nos proteger.
— Não quero que entre no meio disto Michael. – me
alerta.
— Eu já estou no meio disto desde que nasci. Não
pode continuar mais.
— Viva a sua vida Mike, saia, arrume amigos, se
divirta, se apaixone, viva Michael. Não pode gastar o resto da sua vida
tentando consertar algo que já está quebrado há muito tempo.
— Não me peça para desistir da senhora.
— Não estou pedindo que desista, estou pedindo
que esqueça.
— O que está me pedindo é impossível, sabe
disso?! Não pode pedir a um filho que deixe a sua mãe ser espancada toda noite
pelo marido e não fazer nada. Está completamente errada. – eu não aguentava
mais ouvir uma palavra dela, tudo o que ela falava perfurava a minha alma. As
lágrimas já saiam aos montes dos meus olhos, e não estava ligando. – Não pode
fazer isto.
— Mike me ouça.
— PARE! Eu não aguento ouvir isto mais.
— Você há de ser forte querido.
— Eu não sou forte o bastante.
— Sim, você é. Quero que saiba que se algo
acontecer a mim no resto deste ano, você deverá...
— Não, não continue. – a interrompo antes que ela
possa terminar a sua frase.
— Seja forte, eu sei que você é. E é o garoto
mais corajoso que eu já conheci na minha vida. Como ia dizendo, eu não me sinto
bem há algum tempo, se algo...
— Não fale isso mãe. – a interrompo novamente, e
me ajoelho a sua frente pegando em suas mãos.
— Deixe-me continuar Michael. – fala e dá uma
longe pausa, talvez ela estivesse encontrando forças, como eu, para tentar
continuar, eu nunca imaginaria o quão difícil estaria sendo aquele momento para
ela. – Quando eu partir... – e as lagrimas que já saiam descontroladas em mim,
apenas se agravaram. -... Não se culpe, durante todos esses anos, você foi a
minha única salvação. Era o seu sorriso
que fazia tudo valer a pena, era em seu conforto onde eu me sentia mais segura
e mais feliz. Então quando eu não estiver mais aqui, eu quero que você fuja, mas
para bem longe e nunca mais volte ou olhe para trás, tome cuidado, não deixe
que Daryl destruía ainda mais a sua vida, se permita ser feliz. Encontre uma
garota que faça o seu dia valer a pena, assim como você faz o meu.
— M-mãe. – digo a voz falha de tanto que eu
chorava. Eu odiava chorar.
— Não chore meu filho, você ainda tem um longo
caminho a percorrer. – diz em uma tentativa falha de me fazer parar de chorar.
– Sabe o meu disco favorito? – me pergunta e eu confirmo com a cabeça. – Dentro
dele está uma quantia em dinheiro que eu venho guardando há algum tempo, eu sei
que não é muito, mas vai te ajudar em alguma coisa. Quando isto acontecer não
ligue para o seu pai.
— Ele não é meu pai. – digo com convicção.
— Eu sei que o seu coração vai se encher e magoas
– diz ignorando o que eu havia falado. - e você vai querer que ele pague por
tudo. Mas não faça isso, não caia na tentação por ele, não estrague a sua vida
por ele. É tudo o que eu lhe peço. Promete? – me pergunta com os olhos
extremamente vermelhos de tanto chorar. Mas eu continuava negando com a cabeça.
E como eu havia feito com ela há alguns minutos atrás, ela pega a minha cabeça
e direciona o meu olhar com o seu. – Tem que me prometer Michael. – diz com o
seu olhar suplicante.
— Mãe, eu não sei se consigo. – digo com a voz
chorosa.
— Sei que consegue. Promete?
— Pro-prometo. – digo quase não conseguindo
formular a frase.
— Eu amo tanto você Michael. – diz me dando um
abraço apertado. – eu te amo demais, é o ser mais importante para mim.
— Eu também te amo mãe, eu te amo, eu te amo. –
digo quase não aguentando. Eu me entreguei e me permitir chorar em colo como há
muito tempo não chorava. – Não vá, por favor, eu te amo não me deixe... –
sussurrava essa e outras palavras em seu ouvido.
Karen chorava silenciosamente enquanto sofria ao
ouvir os desesperos do filho. E o seu coração se apertava ainda mais, quando
pensava que ele poderia descobrir sobre o envelope que havia escondido na
gaveta na cozinha mais cedo. Tudo o que ela mais queria, era vê-lo não sofrer
daquele jeito.
*
Depois de fazer todos os deveres que os
professores haviam dato nesta semana, eu deixo o meu corpo relaxar sobre o meu
colchão. Deito-me e fico apenas ouvindo a minha respiração, era reconfortante
saber que eu havia sido forte por mais um, que eu havia resistido às tentações
da minha mente por não me sentir boa o suficiente. Eu adorava ouvir a minha
respiração ou a pulsação que as minhas veias faziam, gostava de por a mão do
peito e sentir a batida do meu coração. Estes momentos serviam como medalhas de
mais uma batalha vencida.
— OLÍVIA! – sou desperta quando ouço o grito da
minha mãe no andar de baixo.
— Sim?! – digo quando chego à sala depois de
descer correndo.
— Eu e o seu pai estamos saindo, não temos hora
para voltar. – ela diz e eu só confirmo com a cabeça. – Sei que não devo me
preocupar, já que não possuí nenhum amigo. – “Por que insistia em jogar este
fato na minha cara toda vez que conversávamos?” Essa pergunta sempre se
apossava da minha mente. – Não espere acordada. – dizendo isso a minha mãe
parte em direção a porta seguindo para o carro, onde o meu pai já estava
impaciente de tanto esperar. “Que sorte a minha.” Depois dessa pequena conversa
com a minha mãe, eu decido subir para o meu quarto e assistir a mais alguma
série atrasada em minha grade. Mas antes disso faço uma pipoca, enquanto
esperava infinitos 3:00min para a pipoca ficar pronta, vem a minha mente um
momento doloroso, uma recaída que tive a dois dias atrás, neste exato momento
passo a minha mão sobre a minha perna por cima da minha calça de moletom e
sinto, sinto a dor que causei a mim mesma, sinto o peso dos meus atos, sinto a
vergonha, sinto o medo. Eu tinha vergonha por sentir. Definitivamente eu não
queria sentir, queria desligar as minhas emoções e não ligar mais para nada,
não ligar o os outros achavam sobre mim, não ligar para os insultos que
recebia, não ligar sobre não boa o suficiente, não ligar sobre a vida, eu
queria apenas seguir os meus instintos e ser verdadeiramente feliz. Os meus
tenebrosos pensamentos são despertos assim que ouço o barulho vindo do
micro-ondas avisando que a pipoca já estava pronta. Eles haviam sumido por
hora, mas era só uma questão de tempo até que voltassem a rondar na minha
mente. Eu queria agora era deitar na minha cama quentinha e me deixar levar por
mais um episódio de One Tree Hill, e esquecer. Enquanto olhava para televisão
imaginando se um dia eu encontraria alguém tão legal como Lucas Scott, minha
atenção é desviada para o meu celular, assim que ouço o mesmo apitar que
significava a chagada de uma nova mensagem. O que era estranho já que ninguém
nunca me mandava uma mensagem, ou poderia ser simplesmente a minha mãe, dizendo
que ela e o meu pai não dormiriam em casa esta noite. Mas comprovo que estes
pensamentos estão errados assim que leio o texto da mensagem.
“Olá queridos colegas, vamos a uma festa hoje à
noite?”
Receber uma mensagem de uma pessoa que não era da
minha família já era estranho o bastante, agora receber uma mensagem de Calum
Hood me convidando para ir a uma festa já ultrapassava todos os limites
impostos por mim de estranheza.
“Olívia, Charlotte e Michael, eu sei que vocês já
leram, vamos ou não?”
A mensagem enviada por Calum no grupo do trabalho
piscava em letras coloridas em minha mente. E chega outra mensagem:
“Se vocês quiserem ir, eu posso passar na casa de
vocês e dar uma carona.”
“Festa de quem Hood?” – e Charlotte o perguntava
no grupo.
“Do Oliver Jones.” – Calum a respondia.
“Talvez”
“Você vai Charlotte?” – Hood a perguntava.
“Talvez.”
“Quer eu passe na sua casa?”
“De jeito nenhum.” – Charlotte finaliza.
“E você Olívia, vamos?” – Calum me pergunta.
Agora o que se passava pela minha cabeça era uma
frase que estava impregnada na minha mente, há muito tempo. “Faça mais coisas
que te assustem.” Será que deveria? As pessoas vivem me dizendo para me
arriscar mais, mas o que elas não sabem é quão difícil isto é para mim. É
difícil se libertar. Com estes pensamentos em mente eu digito uma mensagem de
resposta a Calum.
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DIGAM OI PESSOAS QUE MORAM NESTE PLANETA, OU SE VOCÊ NÃO MORA AQUI, MANDA UM OI TAMBÉM!